quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Sobre a discussão sobre pirataria na Gaita-L

2009/12/29 Leonardo 
o lance da pirataria, acho que é uma discussão que está em aberto. Eu sou a linha dos que acreditam que conteúdo digital vai ser pirateado por causa da natureza "livre" da internet. Mas há os que acreditam que a internet terá cada vez mais mecanismos de controle e que a farra de sair baixando tudo vai pro espaço logo. É difícil prever o que vai realmente acontecer. Mas até lá, acho que sai na frente que já assume que não vai ganhar dinheiro diretamente com conteúdo copiável e quem souber usar melhor a web como forma de divulgação do trabalho e, --principalmente-- como forma de estabelecer relacionamentos com fãs e alunos.
 Eu concordo com a linha de pensamento do Kenji acima. Está na frente quem assume que qualquer obra audiovisual digitalizada será copiada. As pessoas não copiam por maldade ou falta de dinheiro. Elas copiam porquê é fácil e conveniente copiar. Ponto. As pessoas não ficaram mais sacanas nos últimos anos, o que mudou foi a realidade tecnológica. 

Eu não preciso de um disco de plástico para ouvir música. A maneira mais prática para ouvir o que eu quero no local e na hora que eu quero é um arquivo digital. Se isso é verdade, pq é que se espera de mim que eu vá a uma loja, compre um CD, transforme em arquivo digital (se me deixarem e não inventarem travas estranhas nos CDs - DRM) para aí poder ouvi-lo no meu tocador de mp3 player? Eu, como consumidor, quero praticidade, facilidade e rapidez. 
A apple store não deu certo por causa do preço. 0,99 dólares por música é um bom preço pois é fácil de ser lembrado e está abaixo da barreira psicológica do 1 dólar. A apple store deu certo pois, pela primeira vez, uma empresa juntou as tarefas de ouvir música (ipod), gerenciar músicas num computador (itunes) e colocar essas músicas no computador (itunes store) de uma maneira coerente e fácil, principalmente se você usar um ipod e um mac. As pessoas não pagam as músicas que baixam no itunes porque estão convencidas de que é a coisa certa a ser feita. Elas pagam pois é mais fácil, rápido e seguro do que tentar achar em alguma rede p2p por aí, ou algum site onde não se sabe se no arquivo zipado não veio um vírus junto. Por isso que deu certo. A apple não vende música, eles vendem conveniência.
Ou seja, as pessoas no Brasil não são mais sacanas do que o povo nos EUA ou na Europa. O povo de lá baixa tanto quanto o povo daqui. Os músicos de lá se deparam com os mesmos problemas que os músicos daqui. Só que eles estão encontrando jeitos de continuar ganhando dinheiro como músicos que não dependem só da venda de CDs. 

Se a música gravada perde o seu valor por ser facilmente copiada, tudo aquilo que não pode ser facilmente copiado ganha valor. E que tipo de produtos os músicos podem oferecer que não podem ser copiados? O mais óbvio são shows. Um lugar num show é um produto limitado. Se a casa está lotada, não dá para copiar mais um ingresso e tentar entrar. Na Europa, o preço dos ingressos em shows cresceu e o preço dos CDs diminui. O número de bandas e CDs lançados aumenta a cada ano, assim como o valor que as pessoas gastam com música. Ou seja, os músicos que reclamam que a pirataria está destruindo a indústria musical simplesmente não sabem como aproveitar melhor esse bolo que está crescendo. Mudou o formato do bolo e muita gente não sabe o que fazer. Depender de venda de CDs, métodos, livros, etc. é uma limitação muito grande para um músico profissional. 
O jeito é abraçar a mudança e descobrir como que os músicos de sucesso continuam ganhando dinheiro. É dando mais aulas? É fazendo mais shows? É vendendo camisetas? É vendendo CDs autografados depois dos shows? É criando CDs personalizados? É permitindo que fãs participem da produção de um CD através de esquemas como sellaband?
Eu tenho visto muitos músicos com idéias interessantes. O Steve Baker organiza duas vezes por ano semanas de workshops de gaita, em Trossingen e na Itália. O percursionista dele, o Martin, dá workshops de cajon onde os alunos montam os próprios instrumentos. O Brendan Power vende um método de gaita irlandesa que  inclui uma Special 20 reafinada para a afinação Paddy Richter. Muitos colocam suas músicas no CD Baby e no iTunes para serem baixadas de maneira fácil. Outros gravam o show que você está assistindo para depois te vender esse mesmo show gravado em CD, um show que é só seu.
Artistas de sucesso tentam seguir uma das máximas do marketing B2C: win their hearts, not their wallets. Ou seja, ao montarem sites ricos, com vídeo, música, contato com os artistas, comunidades de fãs, cenas de camarim, etc., os artistas se fazem tão importantes para seus fãs que estes se dispõe a viajar para assistir a shows com ingressos mais caros, compram camisetas, levam amigos junto, compram CDs autografados diretamente da banda. Se o músico atingir o fã da maneira correta e der um motivo, o fã comprará. O fã gastará dinheiro e se sentirá bem com isso.
Eu não sou um músico profissional e não dependo da venda de CDs para me sustentar. Portanto estou numa posição muito confortável para me sentar ao computador e dizer a todos os músicos profissionais que estão numa situação de adaptação difícil que eles precisam apenas se adaptar. Mas eu acredito que é verdade: a realidade mudou e quem não conseguir achar novas maneiras de sobreviver está fadado a desaparecer. E a culpa disso não é dos fãs que não têm coração. Os fãs são os primeiros a darem uma chance àqueles que oferecem a eles o que eles dão valor.

Bem, esse texto ficou muito longo, mas talvez faça sentido para alguns de vocês.

Nenhum comentário:

Postar um comentário